Palácio Nacional de Belém
A primeira construção neste sítio foi feita em 1559. D. Manuel, um nobre português, comprou o terreno aos frades jerónimos e aqui construiu a Quinta do Outeiro das Vinhas. A quinta manteve-se na família até 1726, altura em que foi comprada pelo Rei D. João V. Com o ouro do Brasil a pingar forte nessa altura, o rei fez grandes obras de remodelação e de ampliação. Assim se explicam os traços arquitetónicos barrocos e neoclássicos do Palácio, que está pintado de cor de rosa desde então. Nas traseiras construiu uma escola de equitação, que décadas mais tarde foi transformada em Picadeiro Real. Diz-se por aí que o rei usava as cavalariças para, discretamente, poder ter os seus encontros amorosos. Estas cavalariças ainda existem, embora hoje pertençam ao Museu dos Coches. É onde dormem a Fandanga, o Kloop, o Jamon e o Pardal da QTour. Com certeza que já os viram a passear pela zona de Belém. Sugerimos que deem uma voltinha com eles. O passeio não é caro e as moças, sempre muito simpáticas, vão contando as estórias da história de Belém.

Durante a monarquia esta casa foi usada quase exclusivamente como casa de férias. De facto, no dia do terramoto de 1755, dia feriado de todos os santos, era aqui que se encontrava a família real. Calhou bem, esta área não foi muito afetada e assim continuámos a ter família real. 😅 Ainda assim, com medo de eventuais réplicas, a família real instalou-se em barracas nos jardins enquanto o interior do palácio serviu de hospital. Só uns meses mais tarde é que D. José I mandou construir a famosa Real Barraca na Ajuda. Daqueles episódios da história que podia ter sido retirado de uma peça de trágico-comédia. Com muita pena nossa, a fotografia só foi inventada umas boas décadas mais tarde, portanto não há registos visuais de toda esta novela. Podemos apenas imaginar o pânico e a confusão que terá sido.
Foi por volta desta altura que alguém se lembrou que seria boa ideia fazer do Palácio de Belém, um pequeno Jardim Zoológico com animais exóticos dos quatro cantos do mundo: zebras, gazelas, macacos, camelos, felinos e até um elefante. Daí as jaulas no Jardim dos Bichos. Acho que alguém se esqueceu de avisar o Rei que, por esta altura, as minas do ouro do Brasil já não estavam a render como antes e que seria boa ideia reduzir nas estravagâncias.

© Museu Nacional de Arte Antiga | Francisco Vieira de Matos – Vieira Lusitano
Em 1807, com as invasões francesas, foi do porto de Belém que a família real se retirou para o Brasil. Uma boa parte do património do Palácio viajou com a família, mas já não regressou. Daí que grande parte da coleção do Museu seja dos séculos XIX e XX.
Já depois do regresso da família real do Brasil, seguiram-se uns anos conturbados por causa da batatada entre liberais e absolutistas. Após uma revolução que lhe tirou grande parte dos poderes, foi aqui, ao Palácio de Belém, que a Rainha D. Maria II chamou o então Chefe de Governo, com intenções de o demitir. Daí este episódio ter ficado conhecido como a Belenzada. No entanto, a pobre senhora saiu-se mal. Acabou por ter de desistir pois o governo tinha o apoio da população e da Guarda Nacional. E ora pois, quando as armas estão contra nós, todos sabemos que não há grande coisa a fazer.
Em finais do século XIX, logo após o seu casamento e ainda antes da coroação, viveram aqui o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia. O Palácio foi então alvo de novas obras de reabilitação. Uns anos mais tarde, foi a Rainha D. Amélia quem transformou o Picadeiro Real em Museu dos Coches.
Nos últimos anos da monarquia o palácio funcionou como lugar para receber os convidados de honra da família real. Foi aqui, num jantar com o então Presidente brasileiro, que em 1910, o Rei D. Manuel II teve conhecimento do golpe que viria a implantar a república.
Com a implantação da República, o Palácio de Belém foi escolhido como residência oficial da Presidência da República. Um dos primeiros presidentes tinha esta ideia de transformar o Palácio numa versão portuguesa de Casa Branca, local de trabalho e residência do Presidente da República Portuguesa. E, na verdade, durante o período que se seguiu, a 1ª República (1910-1926), o Palácio de Belém funcionou de facto como centro político do país e todos os Presidentes aqui viveram. Pagavam uma renda mensal de 100 escudos. A ideia era mostrar, de forma muito clara, o corte com o estatuto e os privilégios da monarquia. Claramente, os últimos anos da monarquia ficaram marcados por alguns escândalos financeiros não muito abonatórios à imagem da família real. 😂

https://sicnoticias.pt/especiais/eleicoes-presidenciais/2021-01-19-Palacio-de-Belem.-A-casa-real-de-veraneio-que-passou-a-simbolo-da-Republica
Durante o Estado Novo (1933-1974), dado o pouco relevo das funções do Presidente da República na governação do país, não houve aqui grandes acontecimentos. Mas, no período que se seguiu, voltou a ganhar destaque. Com a Revolução do 25 de Abril de 1974, foi aqui que se instalou a Junta de Salvação Nacional e foi aqui que residiram os dois presidentes do conturbado período de 1974-1976.

© Presidência da República |Lisboa, Palácio Nacional de Belém, Jardim do Buxo Autor- Rui Ochoa
Em 1976, aprovada a nova Constituição, Portugal entrou numa nova era, a da Democracia. Dos Presidentes da República que se seguiram e até aos dias de hoje, apenas o primeiro, Ramalho Eanes aqui morou permanentemente. Os restantes, como é o caso do atual, usaram o Palácio apenas como local de trabalho. É aqui que acontece o encontro semanal com o Primeiro Ministro e é aqui que o Sr. Presidente recebe Chefes de Estado e delegações estrangeiras. Sabemos que o Presidente está no Palácio quando está hasteada a bandeira verde com o escudo nacional.
Outras curiosidades do Palácio de Belém, embora aparentemente seja simples e discreto por fora, lá dentro, é todo um museu de arte que vale a pena ser visitado. Os retratos oficiais dos Presidentes da República, por exemplo, têm alguma graça. As bochechas do Sr. Presidente Mário Soares estão muito bem apanhadas. O Palácio abre ao público, em visita guiada, todos os sábados. Outro momento interessante, o solene render da guarda, acontece nos 3ºs domingos de cada mês.
Já este ano, numa manhã nublada de Abril, às 7:30 da manhã, surgiu “um manguito” de dois metros em frente ao Palácio. Foi obra de três artistas plásticos como forma de protesto pela atual situação do país. As autoridades tinham intenções de a retirar, mas o nosso Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o homem das selfies e dos afetos, pediu que em vez disso, fosse colocada nos jardins do Palácio. E ali está, pronta a ser também visitada.

© Arquivo Municipal de Lisboa | PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/NUN/000116

O Palácio Nacional de Belém está classificado como Monumento de Interesse Nacional desde 1967 e como Património Nacional desde 2007.
Informações:
- Website: Museu da Presidência
Referências:
- Araújo, N. (1946) Inventário de Lisboa, fascículo 2, CML: Lisboa.
- https://www.museu.presidencia.pt 24/07/2023.
- http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=6547 24/07/2023.
- https://www.publico.pt/2023/04/03/politica/noticia/colocaram-manguito-belem-marcelo-levouo-jardins-palacio-2044845#&gid=1&pid=1 24/07/2023.
- https://sicnoticias.pt/especiais/eleicoes-presidenciais/2021-01-19-Palacio-de-Belem.-A-casa-real-de-veraneio-que-passou-a-simbolo-da-Republica 24/07/2023.
- https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$palacio-nacional-de-belem 24/07/2023.
- https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$belenzada 01/08/2023.
Fotografias adicionais:
Capa website e redes sociais:
© Arquivo Municipal de Lisboa |PT/AMLSB/POR/058989