Parque Eduardo VII

Bem, então vamos lá começar pelos primórdios. Vá, não se assustem, pelo século XVIII. Por essa altura, o núcleo urbano de Lisboa estava circunscrito a pouco mais que a zona ribeirinha, Baixa-Chiado, Castelo e Bairro Alto. A atual Avenida da Liberdade, então denominada de Passeio Público, ficava já fora da zona edificada da cidade. Era lugar de passeio e de encontro da alta sociedade. A área onde hoje fica o parque Eduardo VII, era zona rural.

Eugénio de Almeida, já ouviram falar? Sim, sim, do vinho, ou melhor, do bom vinho, o da Adega Cartuxa! Gostamos, certo? Pois bem, uma parte dos terrenos que hoje formam o parque Eduardo VII pertenciam ao fundador desta família, o empresário José Maria Eugénio de Almeida. Tinha aqui uma quinta, com uma casa muito particular, que ficou conhecida por Casal da Torrinha.

Ao longo do seculo XIX, o aumento da população forçou a expansão urbana da cidade. Foi-se construindo pelo Passeio Público acima, até à atual rotunda Marquês de Pombal e depois à direita, pelas Avenidas Novas. Senhores leitores arquitetos/parisienses, será que reconhecem nestas áreas alguma influência urbanística? Pois bem, quem teve um importante papel no planeamento da cidade nesta fase, foi o Engenheiro Ressano Garcia. Estudou em Paris, assimilou os conceitos urbanísticos do Barão Haussmann e aplicou-os a Lisboa.

Voltando ao Parque Eduardo VII, a cidade foi sendo construída à volta das propriedades rurais que havia aqui na área. Pequeno detalhe importante, com a extinção do Passeio Público no final do século XIX, passou a fazer falta um parque na cidade. É na função de engenheiro da Câmara Municipal de Lisboa, que Ressano Garcia lança um concurso internacional para o projeto de construção de um corredor verde no alinhamento da Avenida da Liberdade, a ser chamado Parque da Liberdade. Foi M. Henry Lusseau, arquiteto paisagista francês, quem ganhou o concurso. Por várias razões este projeto não saiu do papel, mas ficaram algumas das suas ideias que, vagarosamente, foram sendo concretizadas ao longo das décadas seguintes. Por exemplo, o lago.

Bem, mas a história da construção deste parque é comprida e sinuosa. Chamou-se Parque da Liberdade, teve um lago com barquinhos, acolheu bibliotecas ao ar livre e ainda a Feira Popular. Mais recentemente, foi lugar de encontro entre milhares de peregrinos e a mais alta figura da Igreja Católica, o Papa Francisco. Foi rebatizado em 1904, em honra do rei inglês Eduardo VII que o tinha visitado no ano anterior. Tratou-se de uma visita oficial no sentido de reafirmar a mais antiga aliança diplomática do mundo, a aliança entre Portugal e Inglaterra. Na verdade, depois do Ultimato feito pelo Reino Unido a Portugal em 1890, bem que precisavam de vir cá fazer as pazes. 😜

E do Casal da Torrinha, ainda se lembram? Algures no tempo, a casa foi comprada pelo francês Gustave Mathieu. Com a expansão da cidade e os projetos do parque, decidiu a Câmara Municipal expropriar vários terrenos na zona, incluindo a Torrinha. Ordem de despejo ao francês. O pobre coitado resistiu enquanto pôde, interpondo processos em tribunal. Sem sorte, acabou por ter de sair e a Torrinha foi demolida em 1916. Valeu notícia de jornal e contestação social.

Após tanto avanço e recuo na construção e reabilitação deste parque, na década de 40, houve uma alma que finalmente resolveu o assunto. O então Presidente da Câmara de Lisboa, Álvaro Salvação Barreto convidou o arquiteto Francisco Keil do Amaral a desenvolver para aqui um projeto definitivo. Bem, e (com mais detalhe ou menos detalhe) cá temos a atual configuração do parque Eduardo VII.

O parque tem hoje 25 hectares. Um grande eixo central relvado e duas alamedas laterais forradas a calçada portuguesa. Ao longo das laterais existem alguns espaços que valem bem uma visita. À esquerda de quem sobe, as Estufas: Fria, Quente e Doce, que albergam espécies de flora dos quatro cantos do mundo. Um pouco mais abaixo existe um pequeno lago, um simpático quiosque e um parque infantil. No meio desta calmaria, o Clube VII, ginásio da moda aqui do sítio, bastante completo. Do lado direito de quem sobe, está o Pavilhão Carlos Lopes, que também tem uma história algo curiosa. Cenas para um próximo episódio.

No topo do parque, estão duas colunas monumentais, entre as quais Keil do Amaral tinha projetado o Palácio da Cidade. Mais uma polémica, também não chegou a ser construído. Em vez disso, hoje, temos um monumento de homenagem ao 25 de Abril, obra de João Cutileiro (1997). Ora, e imaginem só? Mais um projeto polémico, desta vez, pela sua forma fálica. Atrás, está a maior bandeira portuguesa do mundo (2005). Ali plantada por sugestão de uma criança ao então Presidente da República, Jorge Sampaio.

https://informacoeseservicos.lisboa.pt/contactos/diretorio-da-cidade/parque-eduardo-vii 12/08/2023

Demoras e polémicas à parte, este miradouro tem uma das melhores vistas sobre a cidade: o Castelo de São Jorge, a Baixa Pombalina e o Rio Tejo, com a praça do Marquês de Pombal ao centro. De resto, o Parque Eduardo VII, para além de ser muitíssimo calmo e agradável, é onde se realiza, anualmente, o mais importante evento da cidade. Não há outro igual (pelo menos para nós): a Feira do Livro. 😜

Informações:

- Website: Parque Eduardo VII

Referências:

- Barreto, Á. S. (1946) Relatório do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Anais do Município de Lisboa 1945. CML: Lisboa.
- Maia, A. (2007) Monumentos e edifícios notáveis do distrito de Lisboa, Junta Distrital de Lisboa: Lisboa.
- Dionísio, S. (1988). Guia de Portugal, 1º volume, Lisboa e arredores. Fundação Calouste Gulbenkian: Lisboa.
- http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5094 11/08/2023
- https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/X-arqWEB/Result.aspx?id=1501988&type=PCD 11/08/2023
- https://www.fea.pt/a-fundacao/fundador-e-historia/familia-eugenio-de-almeida 02/08/2023
- https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/o-patio-das-antigas-a-insolita-torrinha-043021 11/08/2023
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_Ressano_Garcia 11/08/2023

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